Djanira da Motta e Silva, Vendedora de flores, 1947
Ao folhear os catálogos das
bienais de São Paulo da década de 1960 e nos depararmos com anúncios de lojas
de objetos de arte popular, é interessante pensarmos que no exato momento em
que a construção e inauguração de Brasília e suas utopias de modernidade se
colocavam diante de uma população avida por progresso e renovação, também
existia um desejo e uma curiosidade da parte de um público razoavelmente
informado numa arte de caráter popular, folclórico, ou “primitivo”. Um
interesse pelo Brasil de dentro e suas formas de arte popular, inteiramente
distinto do Brasil moderno, que se encontrava ilustrado pelos movimentos de
caráter abstrato, como o Concreto e o Neoconcreto. Esse interesse pode ser
visto não só numa série de exposições e nas atividades de figuras como Lina Bo
Bardi (1914-1992) e Pietro Maria Bardi (1900-1999) – que por motivos tão
ideológicos quanto estéticos propunham um olhar não-hierárquico, onde o erudito
e o popular habitavam o mesmo espaço –, mas também na obra de artistas que se
utilizaram da linguagem popular. Esses artistas, dentre os quais Djanira da
Motta e Silva (1914-1979) pode ser inserida, propuseram um modo de se fazer arte
que tomou o popular e suas várias transmutações como ponto de partida.
Giancarlo Hannud é historiador da arte. Estudou Belas Artes
na Slade School of Fine Art, UCL, em Londres, e é mestre pelo Warburg Institute,
School of Advanced Study, onde pesquisou as imagens setecentistas do Diabo no
novo mundo. Entre 2006 e 2007 foi professor de história da arte na City
University, também em Londres. Integrou a equipe curatorial de projetos como a 28ª
Bienal de São Paulo: em vivo contato e a representação nacional brasileira
na 53. Esposizione Internazionale d'Arte, Biennale di Venezia. Entre
2010 e 2015, foi curador da Pinacoteca do Estado de São Paulo. Nessa
instituição foi curador assistente da exposição aberto fechado: caixa e
livro na arte brasileira, com curadoria de Guy Brett e curou as mostras
fato aberto: o desenho no acervo da Pinacoteca do Estado, em 2013, Guillermo
Kuitca: filosofia para princesas em 2014 e Roberto Burle Marx: uma
vontade de beleza, em 2015. Desde 2014 é professor da Faculdade Santa
Marcelina, e contribui para publicações nacionais e internacionais, como Flash Art e Naked Punch.