3NÓS3, Intervenção VI, 15 de julho de 1980. Foto: Roberto Keppler. Cortesia: Mario Ramiro
3NÓS3, Intervenção VI, 15 de julho de 1980. Foto: Roberto Keppler. Cortesia: Mario Ramiro
Sobre o seminário Com mais de 120 anos e 2.800 metros de extensão, a Avenida Paulista constitui um dos principais marcos da cidade de São Paulo. A pluralidade de ocupações e públicos e as transformações de seus espaços merecem ser discutidas sob os mais diversos pontos de vista: local de passagem e ligação entre a periferia e o centro da cidade; polo cultural e turístico; complexo empresarial e comercial; ponto de encontro de culturas urbanas e local de concentração de protestos. O seminário com duração de um dia pretende não apenas refletir sobre as histórias, a paisagem e a arquitetura da Avenida Paulista, mas também levantar alguns temas importantes de seu cotidiano, como as manifestações políticas; o direito à cidade; a população em situação de rua; a gentrificação; as questões de gênero e a sexualidade (do Parque Trianon à Parada do Orgulho LGBT) e intervenções artísticas. Para o debate, foram convidados arquitetos, historiadores, engenheiros, antropólogos e artistas. Dessa forma, enfatiza-se uma visão multidisciplinar cujo objetivo é abordar as dimensões sociais, econômicas e coletivas da avenida e seu entorno, os usos de seus espaços e as possíveis formas de existência na cidade. O seminário antecede os preparativos para a exposição que o MASP realizará em fevereiro de 2017, ano em que completa 70 anos, intitulada Avenida Paulista, tomando a avenida como eixo central da mostra.
Organização: Adriano Pedrosa, André Mesquita, Luiza Proença e Tomás Toledo

Programa

Manhã
9h-10h: credenciamento

10h-10h30: Introdução

10h30-12h30
Paulo César Garcez Marins - A Avenida Paulista como espaço de afirmação das elites imigrantes de São Paulo
Jamais marcada pela presença preponderante dos “barões do café”, como recorrentemente se diz, a Avenida Paulista foi o local privilegiado pelos imigrantes para a construção de suas residências, tendo sido palco de afirmação das novas fortunas a partir de sua condição estrangeira. A especificidade de sua paisagem arquitetônica, cujos palacetes evocavam a origem de seus proprietários, foi combatida por críticos e literatos que criticavam o apelo historicista, já em sua época áurea. Tal desprezo é uma das bases da mentalidade condenatória que acabou por restringir a memória da existência dessas residências apenas a fotografias, que documentam o passado da avenida encerrado nas demolições massivas das décadas de 1980 e 1990.

Renato Cymbalista - Um lugar de sucessivas modernidades
Visões de futuro e de modernidade são expressas pela Avenida Paulista: a presença de infraestrutura e ajardinamento antes mesmo da ocupação; o paisagismo do Parque Trianon de inspiração inglesa e o belvedere no início do século 20; o túnel e o Mirante 9 de Julho remetendo a um imaginário de velocidade e à linguagem art deco no final da década de 1930; a verticalização modernista e pós-moderna; o projeto de identidade visual da década de 1970; a instalação de equipamentos culturais e do mecenato empresarial. Nos dias atuais, a Avenida Paulista é também palco de iniciativas – e de embates – relacionadas às visões de futuro da cidade, com projetos como o Museu da Diversidade, a pedestrianização e a ciclovia. A apresentação problematiza as mudanças nas ideias de progresso e de futuro que vêm se instalando – e se estranhando – na avenida há mais de um século.

Marta Bogéa - Travessias e passagens
Eleita pela população e oficializada pela Câmara Municipal de São Paulo como símbolo da cidade em 1990, a Avenida Paulista permite muitas narrativas. Suas significativas transformações ocorrem tanto em plano material quanto nos modos de estar lá. Vale lembrar de suas mais distintas feições: a avenida dos casarões e do corso e a atual avenida ocupada por “toda gente” aos domingos. Ela será aqui abordada pela rica variedade com que a podemos atravessar, não apenas como espaços arquitetônicos e urbanos, mas sobretudo no modo como através desses espaços podemos ler as paisagens humanas que insuflam esse peculiar lugar. Faremos a partir de seu significativo e precioso “intervalo” – o Vão Livre do MASP –, janela para outra paisagem, pausa no percurso que se transforma em passagem.

Tarde

14h-16h
Lúcio Gregori - A disputa de um espaço-símbolo
Desde 1891, a Avenida Paulista tem sido espaço-símbolo da pujança e do poder de São Paulo, ou melhor, de seus ricos e poderosos, sejam fazendeiros, sejam negociantes de então ou bancos e corporações, como a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp) e escritórios de multinacionais de hoje. Ao longo do tempo, a avenida passou a ser disputada por outras forças como movimentos sociais e sindicatos. Em 2011 e 2013, o Movimento Passe Livre (MPL) ocupou a avenida. Em seguida, outros espaços foram alvo de suas manifestações, em vista das sequelas nesse período e da interdição para a ocupação na avenida. As “Jornadas de Junho”, como ficaram conhecidas, mudaram o padrão e a disputa na Avenida Paulista. Se a sociedade se democratiza e se rejuvenesce em suas manifestações, propicia, também, o aparecimento de novos espaços-símbolo.

Ermínia Maricato - Espaço democrático na cidade desigual: isso é possível?
Embora já tida como a mais nobre via de São Paulo, a Avenida Paulista viveu uma série de mudanças relacionadas ao crescimento da cidade e à transformação da sociedade brasileira. O arquiteto Flávio Villaça relaciona a decadência e o deslocamento do “centro” da cidade de São Paulo ao seu abandono pela elite social, que deixa de fazer suas compras ali ou usar os seus serviços. À popularização desses espaços, que será relacionada à existência do transporte de massa, correspondem seu abandono pela elite e sua desvalorização imobiliária. A Avenida Paulista se tornou um ícone da metrópole paulista ao suceder a centralidade decadente da Sé-Anhangabaú, mas vive a tensão de ser superada pela nova centralidade que a elite social e o mercado imobiliário constroem na região sudoeste da cidade (Berrini, Água Espraiada). Ela vive os conflitos e as agruras da própria sociedade brasileira, não apenas nas manifestações polarizadas que ali têm lugar entre a esquerda e a direita, mas também se mantém ou não como espaço metropolitano da “festa democrática”.

Regina Facchini e Isadora Lins França - Parada do Orgulho LGBT de São Paulo: somos muitxs, estamos em todos os lugares!
A primeira Parada do Orgulho LGBT em São Paulo ocupou as ruas com o lema “Somos muitos, estamos em todos os lugares!”. A frase definia bem o espírito inovador da estratégia das paradas para o movimento LGBT, caracterizada pela ocupação massiva do espaço público. Tomar o espaço da cidade dando visibilidade à diversidade sustentada pela multidão de corpos nas mais diferentes expressões de gênero e sexualidade tem funcionado desde então como um meio de reivindicar reconhecimento e combater o preconceito e a discriminação. Em seus vinte anos de realização, a Parada de São Paulo passou por inúmeras transformações, das estratégias de realização ao perfil do público. Permanece, contudo, o espírito de tomar a avenida demarcando o espaço público como o lugar da possibilidade da diferença e da coexistência.

16h-17h30
Mario Ramiro - A mudança da ordem habitual das coisas
Cenário de fatos marcantes na história da cidade, a Avenida Paulista é também palco de ações, intervenções e performances de grupos e artistas que fizeram dela um lugar da arte experimental das últimas décadas. Um desses grupos, 3NÓS3 (1979-1982), foi formado por Mario Ramiro, Hudinilson Júnior e Rafael França e se notabilizou por realizar interversões nas ruas de São Paulo com o intuito de alterar as percepções sobre a paisagem e a normalidade cotidiana da cidade.

Cristiano Mascaro - Caminhadas fotográficas na Avenida Paulista
Ao longo dos últimos anos, Cristiano Mascaro fotografou a Avenida Paulista nas mais diversas ocasiões e situações. Sua lembrança mais remota é da década de 1970, quando fotografou uma buraqueira enorme que deveria tornar-se uma via expressa sobre a linha do metrô que nunca deu certo. Em outras ocasiões, vieram algumas encomendas profissionais e a Casa das Rosas, o MASP, a Parada Gay, o Mercado Mundo Mix, que acontecia em um palacete remanescente, e o ensaio encomendado pela Folha de S.Paulo para comemorar o centenário do asfaltamento da avenida.

Participantes (clique para mostrar/ocultar)
Cristiano Mascaro
Mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), iniciou sua carreira como repórter fotográfico da revista Veja, para a qual realizou diversas reportagens no Brasil e no exterior. Foi professor de Fotojornalismo na Enfoco e de Comunicação Visual na Faculdade de Arquitetura e Urbanismo de Santos. Entre 1974 e 1988, dirigiu o Laboratório de Recursos Audiovisuais da FAU-USP. Em 1990, recebeu a Bolsa Vitae de Artes. Já realizou diversas exposições de seus trabalhos, que fazem parte de coleções particulares e de museus. Em 2015, foi laureado pela Associação Paulista de Críticos de Arte pelos trabalhos de documentação urbana.

Ermínia Maricato
Professora titular aposentada de Planejamento Urbano da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP). Entre 1989 e 1992, foi secretária de Habitação e Desenvolvimento Urbano do município de São Paulo. Entre 1998 e 2002, foi coordenadora do curso de pós-graduação da FAU-USP. Em 2002, foi membro da equipe de transição FHC-LULA e formulou a proposta de criação do Ministério das Cidades, sendo ministra adjunta entre 2003 e 2005. Recebeu os prêmios Juan Torres Higueras, da Federação Panamericana de Associações de Arquitetos (2006), e Arquiteto do Ano, da Federação Nacional de Arquitetos (2008). Entre 2007 e 2009, foi membro do conselho de pesquisa da USP. Atualmente é ativista política, professora de pós-graduação da FAU-USP e professora visitante do Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).


Isadora Lins França
Professora no Departamento de Antropologia do Instituto de Filosofia e Ciências Humanas da Universidade Estadual de Campinas (IFCH-Unicamp) e pesquisadora colaboradora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu - Unicamp. Tem publicado trabalhos sobre gênero e sexualidade, movimentos sociais, mercado e cidade, entre os quais se destaca o livro Consumindo lugares, consumindo nos lugares: homossexualidade, consumo e subjetividades na cidade de São Paulo (Eduerj, 2012). É autora da dissertação Cercas e pontes: o movimento GLBT e o mercado GLS em São Paulo (USP, 2006).

Lúcio Gregori

Engenheiro civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo (USP). Foi gerente de programação e controle da Companhia do Metropolitano de São Paulo; diretor de planejamento da Empresa Municipal de Urbanização de São Paulo (Emurb); coordenador do projeto Diagnóstico 75, da Região Metropolitana de São Paulo, elaborado para o Governo do Estado de São Paulo; diretor técnico da Empresa de Planejamento Metropolitano da Grande São Paulo (Emplasa); superintendente de planejamento territorial da Companhia de Tecnologia de Saneamento Ambiental (Cetesb); secretário de Serviços e Obras e secretário de Transportes da Prefeitura de São Paulo (1989-1992). É autor do projeto de Tarifa Zero no transporte coletivo.

Mario Ramiro
Artista multimídia, ex-integrante do grupo de intervenções urbanas 3NÓS3. Sua produção reúne esculturas, instalações, redes telecomunicativas, fotografia e arte sonora. É mestre em Fotografia e Novas Mídias pela Escola Superior de Arte e Mídia de Colônia, na Alemanha, e doutor em Artes Visuais pela Universidade de São Paulo (USP), onde é professor da Escola de Comunicações e Artes.

Marta Bogéa
Arquiteta urbanista (Universidade Federal do Espírito Santo, 1987), mestre em Comunicação e Semiótica (Pontifícia Universidade Católica de São Paulo, 1993), com dissertação publicada sob o título Two-Way Street: The Paulist Avenue Flux and Couter-Flux of Modernity (San Diego State University Press, 1995); doutora em Arquitetura e Urbanismo (Universidade de São Paulo, 2006), com tese publicada sob o título Cidade errante: arquitetura em movimento (Senac, 2009). Professora no Departamento de Projeto da Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo. Tem experiência na área de arquitetura e arte, com ênfase em teoria e projeto, atuando principalmente nos seguintes temas: arquitetura, arte, cidades contemporâneas.

Paulo César Garcez Marins
Doutor em História Social pela Universidade de São Paulo (USP). Docente do Museu Paulista da USP e dos programas de pós-graduação em Arquitetura e Urbanismo e em Museologia da USP. Foi conselheiro do Conselho de Defesa do Patrimônio Histórico, Arqueológico, Artístico e Turístico (Condephaat), entre 2013 e 2015. Publicou, entre outros trabalhos, os capítulos "La Avenida Paulista de la Belle Époque: élites en disputa", da obra Ciudades sudamericanas como arenas culturales (Siglo XXI, 2016); "Um lugar para as elites: os Campos Elísios de Glette e Nothmann no imaginário urbano de São Paulo", da obra São Paulo, os estrangeiros e a construção das cidades (Alameda, 2011) e "Habitação e vizinhança: limites da privacidade no surgimento das metrópoles brasileiras", da obra História da Vida Privada no Brasil, vol. III (Companhia das Letras, 1998).

Regina Facchini
Pesquisadora do Núcleo de Estudos de Gênero Pagu - Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) e professora dos programas de pós-graduação em Antropologia Social e em Ciências Sociais da Unicamp. Pesquisa nas áreas de estudos de gênero e sexualidade, cultura e política, saúde coletiva e direitos sexuais. É autora do livro Sopa de letrinhas? Movimento homossexual e produção de identidades coletivas nos anos 90 (Garamond, 2005), que retrata, a partir da cidade de São Paulo, o contexto de surgimento das paradas LGBT brasileiras, entre outras publicações sobre o movimento LGBT, e coautora de várias pesquisas sobre o perfil e as experiências de discriminação e violência de participantes da Parada do Orgulho LGBT de São Paulo.

Renato Cymbalista
Arquiteto e urbanista, mestre e doutor pela Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo (FAU-USP), com pós-doutorado em história na Universidade Estadual de Campinas (Unicamp). É professor do Departamento de História da Arquitetura da FAU-USP. Foi professor convidado da Universidade Técnica de Brandemburg; da Parsons - The New School of Design; da Paris 7 (Diderot) e Paris 1 (Panthéon Sorbonne). É presidente do Instituto Pólis. Integra o Conselho do Centro de Preservação Cultural da USP e da Casa do Povo. É autor e editor de livros e artigos sobre história urbana e urbanismo, entre os quais Sangue, ossos e terras: os mortos e a ocupação do território luso-brasileiro (Alameda/Fapesp, 2011) e O guia dos lugares difíceis de São Paulo (Narrativa Um, no prelo).
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